CAMPO | Eugénio de Andrade


Este verde impossível de se ver,
Que alegre o camponês cultiva a prazo,
Não dá sequer para me aborrecer
Na extensão sem fin do campo raso.

Sem fim, a vida, deixa-se correr
Lisa e fatal, serena, sem acaso.
E acontece o que tem de acontecer
Como quem já da vida não faz caso.

Nada se passa aqui de extraordinário :
Tudo assim, como peixe no aquário,
Sem relevo, sem isto, sem aquilo;

Muito bucólico a favor da besta,
O campo , sim, é esta coisa fresca…
Coaxar de rãs, a música do estilo.

2009 | Lisboa